O El Niño ocorre quando os ventos do Pacífico equatorial perdem força ou mudam de direção.
20 de Outubro de 2015 | Publicada as: 08h42 |
O fenômeno climático El Niño está começando a elevar os preços das commodities agrícolas à medida que seu impacto se espalha por importantes regiões produtoras, como a América do Sul e a Ásia.
Os serviços meteorológicos dos Estados Unidos e da Austrália alertaram, nas últimas semanas, que o efeito do El Niño pode ser o mais severo em quase 20 anos. No fim da semana passada, a Agência Meteorológica do Japão afirmou que as temperaturas da superfície do oceano Pacífico estão “notavelmente acima do normal” e alertou que elas podem até mesmo atingir o seu maior nível desde 1950.
Os agricultores, por sua vez, fazem alertas sobre o risco potencial para sua produção. Produtores de açúcar do Brasil dizem que fortes chuvas podem reduzir o conteúdo de açúcar na cana. E na Austrália, Ásia e algumas regiões da África, agricultores dizem que a seca pode prejudicar safras como as de óleo de palma, trigo, cacau e café.
Vários preços agrícolas já saltaram acima de suas mínimas devido aos receios de uma escassez relacionada às condições climáticas. Nas últimas três semanas, os preços do açúcar subiram 31%, os dos produtos lácteos avançaram 36%, os do óleo de palma, 13,1% e o trigo ficou 6,1% mais caro.
O El Niño ocorre quando os ventos do Pacífico equatorial perdem força ou mudam de direção. Isso causa o aquecimento da água em uma vasta área, o que por sua vez pode ter consequências meteorológicas no mundo todo.
Os consumidores de todos os países estão começando a sentir os efeitos: os preços dos alimentos subiram em setembro em todo o mundo pela primeira vez em 18 meses, impulsionados pelos preços mais altos do açúcar e dos lácteos, informou na semana passada a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Alguns moradores da Ásia estão sentindo o El Niño de forma diferente. Uma densa camada de fumaça paira sobre Cingapura desde meados de agosto, provocada pela queimada das florestas na Indonésia para o plantio da palma. As queimadas duraram mais que o normal devido às condições de seca causadas pelo El Niño, tornando seu impacto “realmente tangível”, diz Joseph Incalcaterra, economista do HSBC.
O efeito total do fenômeno climático nos preços das commodities deve levar ainda vários meses para ser conhecido. O El Niño só deve atingir seu auge depois do fim do ano e persistir em 2016.
No passado, os preços das commodities (excluindo combustíveis) subiram 5,3% em média nos 12 meses anteriores ao anúncio do evento do El Niño, segundo o Fundo Monetário Internacional.
Ainda assim, várias instituições governamentais do setor de alimentos em grandes países produtores da Ásia já reduziram suas previsões para 2016 por conta da seca inesperada. A Associação de Café e Cacau do Vietnã, a Vicofa, estima que a produção de café vai cair de forma significativa, embora não tenha especificado qual será o provável impacto.
A Associação Tailandesa de Exportadores de Arroz prevê que a produção de arroz vai ser entre 15% e 20% menor.
Augyawati Joe, porta-voz da Associação Indonésia de Óleo de Palma, disse que as plantações por toda a Indonésia estão registrando condições mais secas que o normal, o que está atrasando o desenvolvimento da planta. Além disso, a persistência das queimadas para preparar as terras para o plantio tem provocado muita fumaça, o que pode prejudicar a produção neste fim de ano, diz a porta-voz.
Isso pode, por fim, afetar a oferta de óleo de palma, elevando os preços dessa commodity usada em produtos que vão desde alimentos processados a batons. Em agosto, o preço do óleo de palma recuou para seu nível mais baixo em seis anos.
Ainda assim, pode levar cerca de seis meses para que o impacto total na produção seja conhecido, diz Agus Purnomo, diretor-gerente de sustentabilidade da produtora Golden Agri-Resources, de Cingapura.
Os produtores da Austrália também estão começando a sentir o calor.
No mês passado, o Departamento de Agricultura e Recursos Hídricos da Austrália estimou que a produção de trigo no país na safra 2015-16 atingirá 25,3 milhões de toneladas, 7% a mais que na safra anterior.
Mas Tobin Gorey, economista especializado em agronegócios do banco Commonwealth Bank of Australia, diz que a produção pode ser até 2 milhões de toneladas menor devido a um volume de chuva abaixo do esperado em setembro.
Com as condições de seca alcançando também as regiões produtoras de trigo do Mar Negro e partes dos Estados Unidos, estão crescendo os receios de um aperto na oferta global do produto. Os negociadores australianos de trigo estão comprando contratos futuros agora para garantir a disponibilidade do grão nos embarques contratados para mais tarde nesta safra, uma prática que está elevando os preços, diz Campbell Keene, gerente sênior do banco Rabobank, em Sydney.
Os produtores brasileiros, enquanto isso, estão preocupados com o possível excesso de umidade. Chuvas acima do normal podem reduzir o conteúdo do açúcar na cana e diminuir o número de dias disponíveis para a colheita e o processamento.
“Condições adversas no Brasil podem adoçar o cenário [de preços] para o açúcar”, diz Michael Underhill, diretor de investimentos da firma Capital Innovation.
Apesar de a produção de cana-de-açúcar ter subido 0,65% na safra do Centro-Sul brasileiro em 2015-2016, a oferta de açúcar nesta safra caiu 7,28% até a segunda quinzena de setembro, segundo relatório da Unica, associação do setor. Em relação ao mesmo período de um ano atrás, a quantidade de açúcar produzida por tonelada de cana recuou 7,88%.
Fonte: http://www.correpar.com.br/